O ADVENTO EM NÓS

O natal é um momento culminante das bodas da humanidade em Jesus. É neste momento em que estamos prestes a comemorar a natalidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que devemos olhar para dentro de nossos corações e fazer uma profunda reflexão sobre tudo aquilo que se passou neste ano desafiador que foi 2020. Vivemos muitos problemas reais: o distanciamento social (e não falo ainda da distância entre as classes distintas), a adaptação às novidades que sobrevieram pelas dificuldades que nos foram impostas por um vilão invisível – o CoV2, o terror que avassalou o antro de muitas famílias brasileiras que tiveram que se despedir forçosamente dos seus entes queridos, dentre tantos outros problemas de origem pessoal e rotineira.

Em meio a este ano, que teve aparência de caótico, há um som também ensurdecedor que ecoa por todos os cantos: é o som do silêncio - solo muito fértil para cultivarmos a fé. O silêncio que opera é uma prece que se expressa. Muitas vezes este silêncio representa o momento em que puxamos o fôlego para mergulharmos mais profundamente em si mesmos. Da mesma maneira que é dito por Jesus que nenhum homem pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo (Cf Jo 3, 3), o advento não é apenas uma data para comemorar o aniversário natalício de Nosso Senhor, mas também, é o momento especial em que devemos renascer, ou seja, nascer de novo, após uma profunda análise de nosso caminho.

Por vezes estamos em caminhos errôneos e sequer nos damos conta disso, é o exemplo daquele que se omite quando vê o mal em sua frente, ou então daquele que não busca fazer o mal, mas que também não é um praticante exemplar do bem. O natal significa uma evocação do momento sublime em que o Rei desceu a Terra, quando ele viveu conosco pecadores, sem se tornar um igual pecador.  Foi quando ele nos ensinou a amar a luz e disse que a pobreza era o maior dom, tal como apregoou São Francisco de Assis em sua época, mas não a pobreza da miséria que leva o indivíduo ao desespero, mas sim, aquela pobreza de ambições, a pobreza do ego, a pobreza do ódio, a pobreza das vaidades, isto é o natal.

Muito tristemente alguns celebram o natal sem se recordar do aniversariante, e quão vazias são estas celebrações sem a pureza do alvo Rei, que veio para nos remir de todos os pecados. É pelos nossos irmãos, principalmente os leigos, que devemos continuar em nossa missão de espalhar os desígnios de Cristo pelo mundo, trazendo sempre a boa nova do Evangelho. Façamos, portanto, uma profunda reflexão neste tempo do advento, e que passemos por ele tal como se passa pela Porta Santa: deixando para trás o ano que se foi, com os erros que se foram, com os pecados que se foram, e adentrando em um novo ano - com novas histórias, com a indulgência, um novo ser que chega para acrescentar na história da humanidade, assim como fizeram os santos. Que a vela seja acesa neste tempo e posta no candeeiro, e desta forma sejam bem-aventurados os pacificadores que agem pela paz mundial, pois serão chamados de Filhos de Deus (Cf Mt 5, 9,14). Que o lume desta vela se intensifique, cubra toda a face da Terra, e preencha o coração de todas as pessoas com os dons do Espírito Santo.

Desejo um bom advento para todos vós!

(Artigo escrito para o Jornal O Franciscano)