Reflexão do XXIII Domingo do Tempo Comum

“Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo. - Lc 14, 26

    Queridos irmãos, neste domingo somos chamados a refletir sobre nossa vocação, ou mais intimamente sobre nosso chamado a vocação religiosa franciscana. Cada frade tem em sua história de caminhada a vida conventual uma experiência particular de chamado, momento este em que uma chama é acesa em nosso coração e que nos inquieta, como um comichão ou uma coceira, a alma. De tal forma que nos leva e pôr-nos em movimento e em busca do que nos seduz.

    Ir para frente configura deixar o lugar onde estamos para traz, toda ação tem uma reação e não há agir humano que não resulte numa mudança, ora até mesmo o ato de respirar é abandonar o velho ar de nossos pulmões e deixar entrar ar novo, renovado. A Tomada de uma decisão de grande importância não teria menor peso na montanha russa da vida.

    Utilizemos o exemplo dos recém casados para melhor compreender a grandeza de certas decisões. Deixa, pois, o homem e a mulher a casa de seus pais. Passam a construir novo lar, deixando para traz uma casa já solidificada da qual eram habitantes. Devem trabalhar por si só para angariar o sustento da família, pagar suas próprias contas e conquistar seus bens por conta própria, lembrando que na casa de seus pais não tinhas contas a pagar, não precisavam trabalhar e tinha tudo o que necessitavam para viver. Tem ainda que lidar com a chegada dos filhos e aprender o que dificilmente se ensina, a ser pai e mãe e a encarregar-se com a intempéries da paternidade e maternidade. Não é fácil.

    Para o discípulo de Cristo não seria menos difícil, pois seu mestre o chama a tudo abandonar. Os neo-esposos continuam a ter seus pais e irmãos, mesmo após casados. Mas o neo-díscipulo já não o tem mais. Desapega-se de tudo e de todos de maneira a entregar-se completamente a Cruz de Cristo, abraçando-a e carregando-a atrás de seu mestre.

    Tenhamos pois coragem, como frades menores, de abraçar essa cruz, sem condão, de modo que nosso único privilégio seja seguir nu o Cristo nu.

    Dado da Cúria Franciscana, Convento de São Frei Galvão, Gabinete do Diretor Espiritual, 04 de Setembro do Ano de Nosso Senhor de 2022.


Frei João Paulo Cantalamessa, OFM
Diretor Espiritual